Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - Mais de 130 milhões de brasileiros devem ir às urnas neste domingo numa eleição marcada pelo desejo de continuidade em meio ao melhor desempenho econômico do país em décadas e à ascensão social de milhões de brasileiros.
Sem nunca ter disputado uma eleição antes, a candidata governista, Dilma Rousseff (PT), tenta ser consagrada no primeiro turno e alcançar o que seu grande mentor e cabo eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje um campeão de popularidade, não conseguiu nas duas vezes que venceu o pleito.
As pesquisas divulgadas no sábado, no entanto, não conseguiram cravar se Dilma conseguirá seu intento ou terá que enfrentar um segundo turno contra José Serra (PSDB).
Na primeira eleição presidencial sem ter Lula na disputa desde a volta da democracia ao Brasil, com o fim do regime militar, o presidente foi o grande personagem.
Quando foi lançada a pré-candidatura de Dilma, Lula disse que haveria um grande vazio na cédula eleitoral. Depois disso insistiu que votar na ex-ministra da Casa Civil seria como votar nele, apostando na sua alta aprovação e no bom momento do país. Deu certo. O quanto, o resultado deste domingo vai dizer.
Lula trabalhou o tempo todo para que a disputa ficasse polarizada entre Dilma e Serra, a quem derrotou oito anos atrás. Neste esforço rifou a candidatura de seu aliado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB), que brigaria por votos no campo lulista.
Mas a equação não incluía o fôlego crescente da candidata do PV, e ex-ministra de seu governo, Marina Silva. Nem os escândalos que surgiram durante a campanha eleitoral, como a quebra de sigilos fiscais de pessoas ligadas a Serra e, principalmente, as denúncias que derrubaram Erenice Guerra, ex-auxiliar de Dilma, da chefia da Casa Civil.
Além dos defensores da causa ambiental, sua grande bandeira, Marina atraiu desiludidos com os escândalos envolvendo o governo petista. Evangélica, a candidata verde foi beneficiada pelos ataques de religiosos contra Dilma em questões como o aborto.
As últimas pesquisas mostram que, embora tenha avançado, a representante do PV não tem condições de passar Serra. Mas sua força na reta final pode ser decisiva para colocar o tucano num segundo turno contra a candidata de Lula.
Apesar disso, Marina comemorou seu protagonismo final na campanha do primeiro turno. "O ponto positivo é que quebramos o plebiscito e agora existe um processo político", disse a jornalistas, após carreata no Rio de Janeiro no sábado.
Favorita desde o final de agosto, quando as sondagens passaram a indicar chances de vitória no primeiro turno, Dilma teve que negar, várias vezes, que tivesse dado qualquer declaração admitindo vitória.
"Repudio integralmente todas as afirmações que colocam na minha boca, qualquer tentativa de achar que em algum momento eu achei que ganhei as eleições", disse na última quarta-feira.
Se o segundo turno se confirmar, Serra terá quatro semanas para reorganizar sua campanha --que chegou a mostrar imagens suas ao lado do presidente Lula no horário eleitoral gratuito-- e tentar recuperar o terreno perdido nos últimos meses. Quando finalmente admitiu que seria candidato, no final de março, o tucano liderava, com folga, as pesquisas.
"Vamos então para o segundo turno para o bem do nosso país", disse Serra a jornalistas no sábado.
Sondagem do Datafolha, divulgada no sábado, mostrou Dilma com 50 por cento dos votos válidos, enquanto Serra aparece com 31 por cento e Marina, 17 por cento. Para ser eleito na primeira rodada, um candidato precisa ter 50 por cento mais um dos votos válidos (que excluem os brancos e nulos).
Números do Ibope, também divulgados no sábado, colocam a petista com 51 por cento dos votos válidos, o tucano com 31 por cento e Marina com 17 por cento.
Como as duas pesquisas têm margem de erro de 2 pontos percentuais, não é possível dizer se será ou não preciso o segundo turno.